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Especial José Agrippino de Paula

Céu Sobre Água
Direção: José Agrippino de Paula
Brasil, 1972-78.

Por Gabriel Carneiro

Agrippino parece ter fascinação pela imagem. Em seu curta-metragem, Céu sobre Água, rodado ao longo de 6 anos em Super-8, o diretor prima em criar belos e longos planos estáticos da natureza e da interação humana com ela.

Em 20 minutos, Agrippino se apropria da imagem da esposa, Maria Esther Stockler, e da filha, Manhã. A partir delas, desfilam imagens lúdicas, de corpos nus e resplandecentes na água, sujeitas a mudanças cromáticas com a luz solar. Gravado ao longo de 6 anos, o cineasta (e ícone da contracultura brasileira) flagra sua mulher em diferentes momentos, da gravidez à criança no colo. Maria Esther, alta e magra, passeia deitada pelo riacho, entre pedras arredondadas; sua nudez é plástica e harmônica com o ambiente, e a luz emanada pelo sol dá diferentes configurações à imagem. O mesmo processo é feito com ela grávida, e com a filha Manhã em tenra idade.

A partir de elementos naturais, como a água e a luz, Agrippino brinca (e muito) com a imagem. Experimenta cores, reflexos, texturas, camadas. Tudo é motivo para descobrir algo novo, para ver a esposa e a filha por diferentes óticas. É por isso que a nudez constante é tão importante, em especial para Maria Esther. A nudez em Céu sobre Água não é só libertária, é, acima de tudo, imagética. A roupa, para a proposta de Agrippino, é um entrave, um peso morto à criação. O que parece importar é o relacionamento entre elementos da natureza – o corpo, dessa forma, nu. É como se buscasse a unidade entre o corpo e a água, uma certa fluência na ligação, tornando-se a mesma matéria.

São muito belas as imagens que se formam, a coesão do filme e a maneira como Agrippino encaixa tudo. É uma plasticidade incontestável, e, o mais importante, não é vazia – em Céu sobre Água, por mais que não haja uma história condutora, há um sentido maior que extrapola o que vemos. Nem a repetitiva música de cítara indiana entedia, tamanha hipnose causada pelas tomadas contemplativas.

Céu Sobre Água é um filme simples, e de difícil escrita por seus atributos sensoriais. Um filme para se ver, para se sentir.



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