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Coluna do Biáfora

BARRA PESADA
Por Rubem Biáfora, artigo selecionado por Sergio Andrade

“Eivado de palacianismo, espírito de grupo, dirigismo político o Festival de Gramado deste ano (só deste ano e só o de Gramado, dentre todos os tremebundos e cínicos que atualmente, e com todo o tipo de inconsciência e fatuidade oficial, se perpetram neste ambiente de desfile carnavalesco e eleiçoeiro tipo Avenida não por acaso Getúlio Vargas?), o festival de Gramado, dizíamos, mesmo assim não deixou de apresentar duas obras de real mérito. Uma, “Doramundo”, beneficiada sobretudo por sua dignidade de origem e pelas maravilhas da cidade de Paranapiacaba (com sua vivência, sua “alma” quase intactas) e da fotografia de Antônio Meliande. E este “Barra Pesada”, que sem desmerecer o esforço de Batista, deveria ter ido para Reginaldo Faria, por sua desenvoltura e sugestividade, sua firme e bela direção. Aqui temos o nascimento, paixão e morte de um jovem marginal carioca.

Tudo bem, menos num ponto que é também a grande mancha do cinema brasileiro – a mania, como observou um crítico, de levar a marginalidade, o crime, as injustiças, e as degenerescências humanas muito mais que ao pé da letra do que o próprio mal em si com uma volúpia, um comprazimento que não se encontra em nenhum outro cinema ou cineasta do mundo e que acabam com todo o “pathos” que deveria comover as audiências e toda a repulsa que as injustiças e os sofrimentos sociais deveriam motivar por muito tempo a consciência dos bons espectadores, do grande público, em sua acepção mais positiva. Mesmo assim e muito pelo diretor e algo também pela autoria, um bom filme.”

*Publicado n’O Estado de S. Paulo, em 13/08/1978.



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