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Coluna CINEMA Extremo
ONDE O CINEMA PODE SER VIOLENTO...

Por Marcelo Carrard

O Campo Infernal da SS
Direção: Luigi Batzella
La Bestia in Calore, Itália, Espanha, 1977.

Já comentei aqui na Zingu! sobre os filmes Naziexploitation na coluna Subgêneros Obscuros. A série Ilsa, norte-americana, é muito conhecida dos fãs de filmes exploitation, porém, foram os italianos os que mais produziram filmes desse bizarro subgênero. De obras-primas como Salon Kitty, de Tinto Brass, até tranqueiras feitas por Bruno Mattei, muitos são os exemplares de películas infames com inúmeras cenas de tortura e experiências diabólicas em estilizados campos de concentração, sem esquecer da infinita profusão de nudez e sexo gratuito. Com certeza, a obra mais absurda e inacreditável já feita dentro do universo Naziexploitation é La Bestia in Calore aka SS Hell Camp, The Beast in Heat, dirigida por Luigi Batzella, em 1977, e produzida por Roberto Pérez Moreno, o mesmo produtor do clássico Inquisición, de 1975, dirigido por Paul Naschy. O roteiro é de autoria do próprio Batzella, ao lado de Lorenzo Artale.

O filme já choca os sentidos em seus primeiros minutos, mostrando as experiências grotescas de uma médica nazista, em que uma virgem é jogada em uma jaula onde é violentada por uma criatura hedionda que mais parece um híbrido de Homem das Cavernas com um portador de alguma deficiência mental. O mais absurdo é que o tal experimento é levado a sério como uma pesquisa de vital importância. Tudo é mostrado quase que explicitamente, de maneira crua e com uma iluminação direta, sem elaboração alguma, enfocando a tortura sexual como elemento estrutural daquela sequência. Tramas paralelas mostram a resistência dos aldeões ao domínio dos nazistas, mais para preencher o tempo – pois, para o produtor, a ênfase está nas cenas de tortura, sempre coordenadas pela tal médica e soldados e oficiais da SS. Com ousadia extrema, surgem em cena atores e atrizes totalmente despidos, em nudez frontal, o que causou polêmica e censura mundo afora, mesmo tendo sido lançado após os impactantes Emanuelle in America e Saló - Os 120 Dias de Sodoma, sem esquecer de O Império dos Sentidos. A longa duração dessas sequências presentes na versão sem cortes do filme, parece uma arma do produtor para os censores terem o que cortar sobrando alguma coisa das tais cenas mais extremas, recurso inclusive usado aqui no Brasil, nas produções da Boca do Lixo.

Do espetáculo exploitation de La Bestia in Calore se destacam desde cenas de castração, tortura por afogamento, ratos sobre o ventre de mulheres e outras atrocidades sangrentas. Porém, nada supera uma das sequências mais absurdas de toda a história do cinema exploitation. Se não bastasse mostrar o bizarro estuprador na jaula com suas vítimas, existe um momento em que ele arranca os pentelhos de uma mulher, em close, de forma sangrenta, e, não satisfeito, ele come os tais pentelhos da mulher, com a satisfação de quem está saboreando uma iguaria rara. Para chutar longe o balde, ainda tem uma cena em que um sádico oficial da SS penetra, com uma pistola, a vagina de uma mulher torturada por ele e dispara um tiro. Felizmente, o tiro só é ouvido, mas mesmo assim é absurdo, e o mais bizarro é a desculpa dos realizadores de que estão fazendo um “filme-denúncia” sobre as atrocidades do Nazismo. Assim como os WIP, algumas sequências sempre se repetem de filme para filme como as sessões de tortura, exames médicos com várias mulheres nuas e cenas de estupro. O final é inacreditável, uma tranqueira obrigatória para os fãs do mais puro Exploitation e um clássico Naziexploitation que consegue transformar Bruno Mattei em “cineasta”.



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