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Carta ao leitor.

Por que marginal? Seria o cinema à margem do tradicional, do mainstream. João Callegaro, diretor de O Pornógrafo, diz que na época do lançamento, era pior – aí sim, ninguém tinha conhecimento de que isso existia e o preconceito com tais produções era muito forte. Segundo ele, isso foi mudando com o lançamento do livro Cinema de Invenção, do Jairo Ferreira, e a mídia passou a prestar mais atenção a eles. Certamente, isso tem seu lado de verdade. Cinema de Invenção é bíblia para muitos cineastas e críticos de hoje – é impossível negar o papel de reflexão que esses filmes ditos marginais trouxeram para a chamada ‘nova crítica’ e afins, o pessoal que surgiu na geração Contracampo.

Mas, sinceramente, quem são essas pessoas? Um número ínfimo de indivíduos. O Cinema Marginal – mesmo em seus espécimes mais populares, como O Bandido da Luz Vermelha, do Sganzerla, e O Pornógrafo, do perfilado do mês, João Callegaro – não atingiu ninguém. As pessoas saudosas do cinema brasileiro dos anos 60 e 70 mal lembram que existiu um cinema de ruptura – a memória fica com o Cinema Novo e com os grandes sucessos de bilheteria, em especial aqueles com a Sônia Braga. Alguns ainda lembram das produções da Boca, das pornochanchadas – como era gostoso o nosso cinema.

Muitos desses filmes nem foram exibidos comercialmente – como Hitler IIIº Mundo, de José Agrippino de Paula, tema também na edição. Como lembrar, não? Por isso é fundamental projetos como o de Eugênio Puppo e sua Heco Produções – a mostra que teve anos atrás, e hoje está esparsa na programação da Cinemateca Brasileira, e nos DVDs da Coleção Cinema Marginal Brasileiro, em recesso após 4 edições (sabe-se lá por quê).

Como assimilar parte dessa contracultura? Voltando a fonte, sempre. O mercado de DVD não está tão interessado nesses filmes, mas podem ser vistos no Canal Brasil, ou baixados na internet – a maioria deles em gravações do próprio Canal Brasil. Muita coisa está aparentemente perdida, mas algumas existem. Há tantos cinéfilos – e eu me incluo nessa – que, em sua sede de cinema, acaba direcionando sua busca por filmes chavões da cinefilia. Faz parte, claro. Pelo menos alguma coisa de Nouvelle Vague e de Expressionismo Alemão deve-se ter visto – quanto mais, melhor. O mesmo pode-se dizer do cinema nacional: chanchadas, Cinema Novo, Cinema da Boca do Lixo e Cinema Marginal, entre outros. Só que, por ser cinema nacional, ser sua própria história, dever-se-ia passar do “alguma coisa”. Não ficar apenas no óbvio de Bressane e Sganzerla – isso quando muito. Callegaro, Agrippino, Trevisan, André Luiz Oliveira, Álvaro Guimarães, Carlos Ebert, Julio Calasso e tantos outros que trabalharam nessa estética são excelentes alternativas.

O que queremos, acima de tudo, na Zingu!,é que se conheça tais produções, tais cineastas. Por isso as longas entrevistas, as resenhas de boa parte dos filmes (aqueles a que tivemos acesso), e artigos que tangenciam o tema. Se conseguirmos isso, já está ótimo.

Gabriel Carneiro
Editor da Zingu!



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