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Musas Eternas...
PORQUE O QUE É BOM, É ETERNO...

Naomi Watts


Por Aílton Monteiro, especialmente para a Zingu!*

Tudo começou com uma obra-prima de David Lynch. Pelo menos foi como começou para mim, quando me foi revelado o talento de Naomi Watts. Ela contracenava com uma morena lindíssima, que não era tão boa atriz como ela, mas ambas formavam um belo par. Lynch realiza uma das mais comuns fantasias masculinas, ao nos mostrar uma loira e uma morena fazendo amor numa cena que é ao mesmo tempo romântica e transgressora, excitante e cheia de mistério. Mas sem querer me aprofundar nesse, que eu considero o melhor filme do século XXI até o momento, afinal, quem é mesmo aquela loira que da noite para o dia – ou seria do dia para a noite? – se tornou uma das estrelas mais requisitadas de Hollywood?

Nascida em 28 de setembro de 1968, na cidade de Shoreman, na Inglaterra, viveu lá até os oito anos de idade, quando se mudou com a mãe para o País de Gales, onde ficou até os quatorze anos. Após isso, ela se mudou com a família para Sydney, na Austrália. A mãe acreditava que o lugar era uma terra de oportunidades. E foi lá que Naomi Watts começou a freqüentar escolas de teatro – chegando até a conhecer Nicole Kidman numa dessas aulas. Tentou carreira de modelo no Japão, mas não foi bem sucedida, voltando para a Austrália, que foi onde iniciou sua carreira de atriz de cinema e televisão, ainda que em pequenos papéis. O filme mais importante dessa fase australiana talvez seja Flertando – Aprendendo a Viver (1991), de John Duigan, um belo filme. Nicole Kidman já aparece em papel de destaque nessa produção, mas Naomi participa apenas em uma ponta. E foi também numa ponta que ela estreou em Hollywood, na comédia Matinee – Uma Sessão Muito Louca (1993), de Joe Dante.

Seu primeiro papel de destaque foi na produção australiana Relação Perigosa (1993), de George Miller. Nos Estados Unidos, foi com Tank Girl (1995). Em Colheita Maldita 4 (1996), ela encabeça o elenco pela primeira vez, mas o filme era uma produção de baixo orçamento e uma franquia que nunca foi muito popular. Pouco antes de ser chamada por David Lynch para fazer o filme que mudaria a sua vida, ela atuou em outro terror B que muitos dizem ser horrível, O Elevador da Morte (2001), sobre um elevador que mata as pessoas. Mas a chance de trabalhar com David Lynch em sua obra máxima, Cidade dos Sonhos (2001), chegou. Tudo foi maravilhoso e ao mesmo tempo assustador, já que sua entrega a uma personagem que desce ao inferno de sua própria consciência foi impressionante. Foi quando Hollywood finalmente se rendeu ao talento de Naomi. Vários sucessos se sucederam: O Chamado (2002), 21 Gramas (2003) - que lhe rendeu uma indicação ao Oscar -, Tentação (2004), O Chamado 2 (2005), King Kong (2005), Senhores do Crime (2007), Violência Gratuita (2008), Trama Internacional (2009).

Mas talvez a chave para compreender a entrada de Naomi em Cidade dos Sonhos esteja numa produção pequena, alternativa, chamada Ellie Parker (2005). Trata-se de um longa-metragem que uma vez foi um curta. O diretor, Scott Coffey, fez inicialmente um curta de 16 minutos, que acabou fazendo sucesso no Festival de Sundance. A decisão para transformá-lo num longa se deveu provavelmente ao sucesso de Naomi - e foi ótimo isso ter acontecido. Curtas-metragens são geralmente esquecidos e de difícil visibilidade. Em Ellie Parker, há uma semelhança com o papel que Naomi fez em Cidade dos Sonhos. Ela interpreta uma atriz entrando em parafuso, sem saber quem é e tendo de sobreviver em busca de papéis em filmecos e produções para a tv. É um filme que serve como cartão de visita para o talento da atriz, além de ser essencial para estudantes de artes cênicas. Não por acaso, tanto ela quanto Scott Coffey trabalharam em Cidade dos Sonhos e também em Rabbits (2002), os loucos curtas-metragens feitos por Lynch para a internet.

E Naomi sempre me atrai, seja qual for o filme ou gênero que faça. Nota-se em sua filmografia um especial carinho pelos filmes de horror. Ela talvez seja a grande scream queen dos anos 2000, dando o melhor de si sempre. Ela me passa a impressão de que cada título que tem o seu nome vale a pena, mesmo que o filme não seja lá grande coisa. É o tipo de atriz que tem uma beleza moderada, o que é uma vantagem, pois ela não precisa se preocupar tanto com a passagem do tempo. Imagino que ela será uma atriz que envelhecerá bem, não lhe faltando bons papéis. Mas isso só o tempo dirá.

Dá para se ter uma idéia dos bons rumos para o futuro de Naomi, ficando de olho em seus próximos projetos. Ela estará em Fair Game, de Doug Liman, em que contracenará novamente com Sean Penn, seu parceiro de 21 Gramas e O Assassinato de Richard Nixon (2004); em Mother and Child, de Rodrigo García, ao lado de Annette Bening e Samuel L. Jackson; e no próximo projeto londrino de Woody Allen, ao lado de Josh Brolin, Antonio Banderas e Anthony Hopkins. Fazendo filmes com gente boa como essa, algo me diz que Naomi Watts ainda estará bem na fita durante muito tempo.

*Ailton Monteiro é cinéfilo de carteirinha e editor do blog Diário de Um Cinéfilo, premiado com o Quepe do Comodoro de melhor blog em 2004.



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