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Dossiê João Silvério Trevisan

Entrevista com João Silvério Trevisan

Parte 5: A literatura, o teatro e o futuro

Por Gabriel Carneiro
Fotos: Laís Clemente

Zingu! - Depois de abandonar o cinema, você foi para Berkeley.

João Silvério Trevisan – Fiquei entre a Califórnia e o México. Um ano e meio em Berkeley, e um ano no México. Foi lá que voltei a escrever. E eu caminhei durante seis meses pelo continente americano, do Uruguai até o Texas, depois atravessei o sul dos EUA, de San Diego para Los Angeles, de Los Angeles para São Francisco e de São Francisco para Berkeley. Fiquei lá trabalhando, limpando casa, e depois fui atendente num restaurante, e estudando inglês – entrei numa escola pública. Voltei para o Brasil no último dia de 1976.

Z – Quando você voltou, lançou seu primeiro livro de contos.

JST – É, mais foi muito difícil. Fui muito censurado pela esquerda – a direita não me queria mesmo -, e voltei uma coisa completamente indeterminada. Eu tinha convivido com a esquerda americana, que não tinha a ver com a brasileira, que era terrivelmente stalinista, machista; eu encontrei esse clima aqui.

Z – Por que você voltou a escrever?

JST – No México, eu me reencontrei com a literatura, depois de uma briga com um poeta mexicano. Eu tive uma briga com a literatura na época do Seminário. Aos 19 anos, eu achava que literatura era uma grande mentira. Quando cheguei no México, estava muito acossado, não tinha saída para o cinema, não tinha saída para a literatura. Tive essa briga com um jovem poeta mexicano e disse a ele que literatura era uma grande mentira, e que ele estava metido num buraco sem saída. Tivemos um bate-boca violento, cheguei em casa e escrevi um conto. Aí não parei, tanto que o livro é dedicado a ele. Nunca mais tivemos contato.

Z – Qual o seu maior sucesso literário?

JST – Não sei se posso falar em sucesso. Eu não recebo bosta nenhuma de direitos autorais, e não tem sucesso. Meu livro mais vendido é o Devassos no Paraíso, mas não significa sucesso. Tem várias edições, mas o que se recebe de direitos autorais é vergonhoso, eu não tenho a menor condição de viver a base disso.

Z – E qual o livro seu que gosta mais?

JST – Tem um livro por qual sou apaixonado, por conta do método de trabalhos, Vagas Notícias de Melinha Marchiotti. É meu primeiro romance, mas o segundo publicado, que deve ser reeditado no ano que vem, pela Editora Record. Amo esse livro porque foi escrito com grande sensação de liberdade.

Z – Como o teatro entrou em sua vida?

JST - Pra mim, o teatro fica nalgum ponto da encruzilhada entre a literatura e o cinema. Mas acho uma linguagem dificílima, pela sua peculiaridade projetada dentro de uma caixa - mesmo quando se extrapola o palco italiano. Nela, é preciso repercutir todos os dramas do mundo. Fui fazer teatro por razões diversificadas, mas meu encanto sempre foi a intimidade quase promíscua que o teatro permite com os espectadores. É uma coisa fascinante. Grandes autores e diretores conseguem atingir a transfiguração nesse palco. Não são muitos. Mas quando ocorre, beira o sagrado.

Z – Tem projetos futuros?

JST - Tenho um novo romance pronto, com lançamento previsto para 28 de agosto, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Chama-se Rei do Cheiro. Conta a história de um grande empresário na área de perfumaria, a partir da década de 1950 até 2006, quando ocorrem os ataques do PCC.

Z – Tem vontade de fazer cinema ainda hoje?

JST - Muita, há muito tempo. Só parei de fazer cinema porque a censura militar impediu a exibição Orgia ou O Homem que Deu Cria, interrompendo com isso a minha carreira. Mas estou voltando ao cinema pelo meu lado roteirista. Nos últimos 8 meses, escrevi 5 roteiros e projetos para TV. Espero que isso seja só o começo.


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