html> Revista Zingu! - arquivo. Novo endereço: www.revistazingu.net
Dossiê André Luiz Oliveira

Louco por Cinema – arte é pouco para um coração ardente, de André Luiz Oliveira

Por Gabriel Carneiro

Louco Por Cinema, o livro, nasceu do filme. Assim como o personagem Lula, o protagonista de Louco por Cinema, o filme, uma pessoa presa a um estigma, a um conceito que refuta – o de louco -, à procura de si mesmo, André Luiz, o diretor do filme e autor do livro, carrega um estigma, o de ‘marginal’, que refuta. Não à toa, o livro, muito mais que desbravar o filme, revela a trajetória de seu autor.

André Luiz Oliveira foi para o cinema muito jovem, fazendo assistência ao fotógrafo Vito Diniz. Fez um curso de cinema extracurricular na UFBA com Guido Araújo e Walter da Silveira, e logo partiu para seu primeiro curta-metragem, em 1968, ao lado de José Umberto, Doce Amargo. Ganhou o prêmio de melhor curta documental no Festival JB Mesbla, e se embrenhou pelo cinema. Foi quando fez Meteorango Kid – O Herói Intergalático e ganhou fama e estigma de marginal. O filme de 1969 é um dos mais emblemáticos do chamado Cinema Marginal, uma estética cinematográfica geracional. André Luiz chegou a fazer outros filmes, longas e curtas, até que no começo dos anos 90 começa a trabalhar no roteiro de Louco por Cinema, um filme autobiográfico, excetuando a licença poética. O que o autor trabalha no longa é justamente a prisão ao rótulo.

Louco por Cinema – arte é pouco para um coração ardente é, portanto, a melhor maneira de conhecer a trajetória de André Luiz, e conseqüentemente o personagem Lula. Lançado em 1997, três anos após o filme sair com vários prêmios no Festival de Brasília, com apoio do próprio Festival, o livro divide-se em quatro partes: na primeira, aborda a trajetória de André Luiz no cinema, a segunda fala do filme Louco por Cinema, a terceira discute o processo de construção do filme e a quarta traz o roteiro de Louco por Cinema.

Para o leitor interessado em conhecer mais de André Luiz Oliveira, é fundamental a leitura das duas primeiras partes. Ao aprofundar-se em questões de seu passado e de sua história, o autor vai delineando o paradeiro de sua vida, sempre fazendo a ponte como isso iria delinear o filme de 1994 – quase como um exame do processo criativo. No prólogo do livro, afirma: “quando comecei a escrever, senti que o filme Louco por Cinema era apenas a expressão final de um processo que durou quase minha vida inteira”. Por isso retoma desde o primórdio, passando por alguns episódios fundamentais, como o processo de realização de Meteorango Kid, a prisão em 1973, a realização de A lenda do Ubirajara, e seu exílio voluntário do cinema.

Quase como terapia, escrever o livro traz uma questão nevrálgica para André Luiz: seu processo de reconciliação com a própria história e com o próprio cinema. Como se encontrasse com seu eu mais intrínseco, o autor disseca suas digressões a fim de incorporar a latência de seu personagem que busca a liberdade.

Provavelmente por isso, seu relato é muito íntimo e muito divagador; um escrito à procura de uma identidade, as múltiplas dentro de um ser humano.




<< Capa